Os desafios para o atendimento aos alunos com deficiência intelectual nas escolas

Carolina Videira

10 de fevereiro de 2025

Desde 2015, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) trouxe avanços, transformando as pessoas com deficiência em cidadãos de fato, com direitos adequados aos seus anseios e necessidades. Quase uma década depois, é possível dizer que progressos foram feitos, porém é necessário entender que melhorias precisam ser implementadas.

É claro que neste período caminhamos para frente, mas é preciso salientar que as queixas sobre a inclusão ainda são muitas. As reclamações acontecem especialmente das pessoas com deficiência intelectual ou inteligência limítrofe, uma vez que os modelos usados no dia a dia são geralmente incompletos.

A neurociência já provou que todo cérebro é capaz de aprender. É o primeiro ponto para entender que toda e qualquer criança, com ou sem deficiência, mas especificamente aquelas com deficiência intelectual, tem capacidade de assimilar o que é ensinado. Cada uma tem o seu tempo de aprendizado e esse é o primeiro desafio das instituições de ensino.

A grade nas escolas brasileiras é pouco flexível. Em uma turma com a média entre 30 e 40 alunos em sala de aula, todo o ensinamento é feito em um único tempo. O processo rígido é um entrave, uma vez que se baseia somente no conteúdo e não no processo de aprendizagem propriamente dito.

A falta de uma educação individualizada esbarra em outra questão comum nas escolas: a formação dos professores. Nem todos contam com uma formação adequada e eles não se sentem capazes para lidar com as demandas necessárias e com as dificuldades do dia a dia. Capacitar e orientar quem leciona com temas inclusivos é um investimento que deve ser feito de maneira contínua. Pode-se incluir o fato da necessidade de se desconstruir e reformular as atuais práticas de ensino, integrando o processo de ensinagem para promover uma educação mais inclusiva e efetiva.

A capacitação está diretamente ligada a outra questão limitadora das escolas, como a falta de recursos, e não somente os financeiros. Nem toda instituição é capaz de implementar estruturas que permitam adaptar o ambiente para uma total acessibilidade da criança e adolescente com deficiência. Conseguir integrar tecnologias assistivas no ambiente escolar para apoiar a aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual é também uma ferramenta extremamente valiosa. A inteligência artificial já é uma realidade e pode ser utilizada de maneira útil pelos professores, mas não somente ela, mas sim utilizando das experiências dos professores também.

Todas essas alterações ajudam na acessibilidade do aluno e transformam a escola em um ambiente agradável, sendo esse um ponto sensível e vital para a permanência efetiva dos alunos. Vale mencionar que algumas estão matriculadas em período integral, ficando mais tempo na escola do que em casa.

Um ambiente acolhedor é essencial para o desenvolvimento de uma criança com deficiência intelectual. Entender que a escola é um lugar seguro, cercado de amigos e pessoas dedicadas ao cuidado são fundamentais para estreitar esses laços. A criança precisa ter prazer em seu dia a dia escolar. A neurociência destaca que o estresse e a ansiedade podem prejudicar a capacidade de aprendizado, como já mencionado em relatório da Unesco de 2009. O levantamento ressalta a importância de criar ambientes seguros e inclusivos para crianças e adolescentes com diferentes necessidades, incluindo a deficiência intelectual.

A escola precisa ser uma extensão da casa e vice-versa. O ambiente familiar tem papel crucial no processo e amplifica a questão do aprendizado individualizado. Envolver os familiares para uma educação homogênea atua a favor da absorção do que é passado na sala de aula. Uma comunicação direta entre professores e pais ou responsáveis colabora com o desenvolvimento da criança com deficiência intelectual.

Promover a inclusão de pessoas com deficiência intelectual nas escolas é uma jornada extremamente desafiadora. Requer investimento em capacitação humana, infraestrutura e tecnologia. Flexibilizar o ensino e uma comunicação 360º entre família e escola são pontos imprescindíveis. Uma oportunidade de ter ideias fora da caixinha, além de uma integração em que todo mundo sai ganhando.

É preciso lembrar sempre que a missão número um é não deixar ninguém para trás!

Carolina Videira

É educadora, empreendedora social e consultora. Atua nas áreas de Educação, Direitos Humanos e ESG/ASG. Vencedora do Prêmio Empreendedor Social do Ano (2022) e do UN Women USA Rise and Raise Others Award (2022)

logo rede buriti