Fernando Vasconcelos Heiderich
10 de fevereiro de 2025
Trabalhar é um indicador de saúde plena para a pessoa, que fica demonstrada em vários aspectos daquele indivíduo especificamente, respeitando suas individualidades. Significa que ele está saudável numa das mais importantes esferas de inclusão na vida de qualquer pessoa, o trabalho. Pode ser também um sinal de saúde das diferentes comunidades no seu entorno.
Quando adequado, traz autoestima, autoconfiança e dignidade pela independência que propicia, mesmo que parcialmente. Além disso, permite novos relacionamentos e a esplendorosa sensação do pertencimento.
Sim, pertencer àquele momento...e nos tantos outros momentos que se repetem diária ou semanalmente nos ambientes de trabalho. Nas ricas trocas com as outras pessoas, sejam colegas, clientes, fornecedores etc. Numa evolução bilateral contínua e edificante. Na construção e aprimoramento dos aprendizados tanto nas habilidades técnicas como nas socioemocionais, que são vistas cada vez mais, e ainda mais, como as mais importantes. Além disso, o trabalho é um direito de todas as pessoas e um verdadeiro, e inquestionável, ganha-ganha. Ganha o indivíduo, ganha a família e as comunidades ao seu redor, ganha a empresa pelo valor que agrega ao negócio e ganha o Estado.
Essa descoberta ainda precisa acontecer no Brasil pela maioria dos empresários,
comerciantes, profissionais liberais, assim como a maioria das famílias e a quase
totalidade das lideranças políticas.
Ainda hoje, predomina o capacitismo e o desconhecimento do ganha-ganha da inclusão laboral de pessoas com deficiência. Para todo o ecossistema onde vivem.
Apesar de estarmos celebrando os 33 anos da lei de cotas, ainda temos no Brasil uma das piores taxas de inclusão laboral. Atingimos metade do objetivo dessa importante lei, apesar de contarmos com ela há mais de 3 décadas. Chegamos a pouco mais de meio milhão de pessoas com deficiência incluídas, em grande parte, por ela. Com um total de praticamente 19 milhões de pessoas, dos quais quase 11 milhões na faixa de idade economicamente ativa (PEA), isso significa pouco mais de 4% das pessoas com deficiência. Se olharmos o número total de pessoas trabalhando (101 milhões), elas representam menos de 1%. Precisamos mudar este cenário urgentemente e levar este valor para os diferentes negócios e esferas da sociedade no Brasil. Será muito positivo quando expandirmos esse benefício.
Para que isso ocorra, além do empoderamento jurídico da lei de cotas e a mudança de paradigma das famílias e lideranças, é fundamental aumentarmos o uso da metodologia do Emprego Apoiado (EA). Importamos essa tecnologia dos EUA há décadas. Mesmo sem uma lei de cotas, como temos aqui, eles empregam 10 vezes mais pessoas com deficiência do que no Brasil. O uso massivo dessa metodologia é uma das maiores justificativas para tamanha diferença. No EA trabalhamos a pessoa com deficiência, seus responsáveis e a empresa. Antes, durante e depois da contratação. Trabalhamos num processo com 3 partes importantes: primeiro a descoberta ou construção do perfil vocacional. Nele levantamos, com foco na pessoa, suas características, habilidades, preferências e necessidades de apoio. Com esse perfil vamos para a segunda parte que é a do desenvolvimento do emprego. Buscamos empresas e funções que se comuniquem com o perfil levantado na fase da descoberta. E a terceira parte é a do acompanhamento pós colocação. Nesta fase mediamos as relações e oferecemos o suporte para as adequações do ambiente de trabalho, descrição das tarefas, revisão de processos (se necessário), orientação para os colegas e gestores assim como toda a comunicação, questões de logística, plano de carreira etc. Ideal que nos façamos dispensáveis tão logo seja possível. Assim se tornam independentes, auto-suficientes e portanto prontos para a inclusão e nova cultura.
Com essa metodologia, as chances de sucesso são muito maiores. A empresa ganha saúde organizacional, evolui mudando sua cultura e ganhando muito com a inclusão, para seus diversos públicos em toda sua cadeia de negócios.
Na FANEA (Federação das Associações de Emprego Apoiado) oferecemos cursos de introdução a essa metodologia, cursos de formação de consultoras em EA e ajuda em questões regulatórias, políticas e de cultura e direitos dentre outras ações.
Que possamos aprovar as leis que regulamentam o EA para então avançarmos com a necessária dotação orçamentária federal. Passos fundamentais para expandirmos significativamente o uso dessa metodologia e o ganha-ganha da inclusão laboral de pessoas com deficiência no Brasil.
Saúde organizacional significa maior eficiência operacional (McKinsey).
Que a saúde plena seja ampliada com maior inclusão laboral!
Fernando Vasconcelos Heiderich
Presidente do Instituto MetaSocial, Médico-veterinário (Londrina-Pr), Comendador pela SBMV, pós-graduação na ESPM (SP), MBA pela Penn State (EUA), Emprego Apoiado e Mediação nos EUA e Brasil. Membro da FANEA, da FBASD e colunista.